Crianças Selvagens e Desenvolvimento Humano
Classificado em Psicologia e Sociologia
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**Explorar as Consequências da Privação Social: Crianças Selvagens**
O termo “crianças selvagens” é usualmente atribuído a crianças que crescem e se desenvolvem fora da sociedade, fora da cultura e da civilização. Os relatos apresentam-nos três tipos de crianças: as que terão sobrevivido por si próprias (Victor de Aveyron); aquelas que parecem ter sido auxiliadas por animais (Amala e Kamala); e ainda crianças que crescem em clausura (Genie). O estudo dos casos conhecidos tem vindo a contribuir para a compreensão do papel das interações sociais no desenvolvimento do ser humano.
As características mais gerais que estas crianças apresentam são:
- Possuem uma linguagem sobretudo mímica, em alguns casos imitativa dos sons e gestos dos animais com que conviveram.
- A sua linguagem verbal é sempre nula ou muito reduzida (varia de caso para caso, conforme o tipo de isolamento e a idade a partir do qual este aconteceu).
- O seu comportamento social não é, regra geral, orientado para outros seres humanos, nem segue os mesmos padrões, podendo, em alguns casos, aproximar-se ao dos animais com que interagiam, quando existia uma interação de tipo social com outros animais.
- As crianças selvagens não choram nem riem, manifestam dificuldades no controlo emocional e têm que aprender a exprimir as suas emoções e a reconhecer emoções no rosto das pessoas com quem interagem.
- São também insensíveis ao frio e ao calor ambientais.
- Têm a visão noturna e o olfato superior ao normal, e o ritmo do sono é coincidente com o intervalo de tempo entre o anoitecer e a madrugada.
O que nos torna humanos depende da genética, da herança biológica, e da dimensão sociocultural. Os casos das crianças selvagens permitem-nos perceber o papel da cultura e da sociedade na definição do que é o ser humano. Dependemos dos outros, do contacto físico e sociocultural com eles para nos tornarmos os seres humanos que somos.
**Analisar a Imaturidade Biológica do Bebê e as Suas Competências**
O ser humano, quando nasce, é um ser imaturo. Essa imaturidade, que se revelou um elemento decisivo no processo de desenvolvimento da espécie, torna-o dependente, durante muito tempo, dos adultos: para se alimentar, para ser protegido, para sobreviver física e psiquicamente. Os novos meios de investigação e os novos dados que se obtiveram motivaram um acréscimo do interesse dos psicólogos sobre as competências precoces do bebê. Abandonou-se a ideia de que o bebê era um ser passivo nos primeiros meses de vida, e constatou-se que apresenta um conjunto de capacidades e competências que estimulam aqueles que o rodeiam a satisfazer as suas necessidades. Este processo vai ter, pelo seu carácter comunicacional, repercussões nas relações futuras.
As observações e as experiências desenvolvidas nos últimos anos mostraram que as capacidades dos bebês, designadamente a capacidade para comunicar são muito superiores às que, até há pouco tempo, se imaginava. Assim sendo, as competências do bebê são: ver, ouvir, o sorriso, o choro, as vocalizações (3-6 meses), e ainda as expressões faciais/emoções.
**A Importância da Comunicação Mãe-Bebê**
A regulação mútua envolve o bebê e os seus progenitores numa interação em que ambos procuram responder de forma adequada. Uma interação equilibrada exige que a mãe interprete adequadamente os sinais emitidos pelo bebê e que responda de forma adequada. Se o bebê consegue o que precisa, reagirá com alegria, e, se depois de várias tentativas para atrair a mãe, não consegue, manifestará ansiedade e frustração.
Erik Erikson chamou a atenção para a importância das primeiras relações que o bebê estabelece, designadamente com a mãe. Entre o nascimento e os 18 meses, o bebê mantém uma relação privilegiada com a mãe, que oscila entre a confiança e a desconfiança. Se a mãe cuida do bebê, se está disponível para responder às suas solicitações, desenvolve um sentimento de confiança, fazendo-o sentir-se seguro. O bebê acredita que os seus desejos e necessidades serão satisfeitos. Se a mãe não responder positivamente, podem desenvolver-se sentimentos de desconfiança que se manifestam por medos e receios. O mundo surge-lhe como imprevisível e ameaçador. Segundo Erikson, o sentimento de confiança refletir-se-ia ao longo da vida manifestando-se numa capacidade de adaptação às pessoas e às situações em contexto social.