O Movimento Operário na Espanha: Século XIX

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As duras condições de vida do proletariado industrial e dos jornaleiros levaram a conflitos permanentes com as forças de segurança do Estado Liberal, que defendiam aos empresários e latifundiários. Aumentou o número de operários membros de sindicatos ou outras associações operárias. O movimento operário esteve condicionado pelas características do processo de industrialização na Península, pelo que iniciou-se no final de 1830 com a mecanização da indústria catalã. A conflitividade social deste período é conhecida, como em outros países, como "movimento ludita", os operários destruíam máquinas pois as viam como as culpadas da perda do trabalho. O direito de associação propiciou a aparição de sociedades com um caráter mais reivindicativo, afastando-se apenas da proteção dos operários afiliados.

A Década Moderada e os Conflitos

A Década Moderada foi um momento difícil pelos frequentes conflitos, lutas e greves. Além disso, surgiram associações culturais e publicações que refletiram os problemas operários. No Bienio Progressista Barcelona continuou sendo a zona de maior conflitividade e onde o movimento operário mais se consolidou. Porém, no resto do país foi mais heterogêneo, quase sem organização e com frequentes explosões espontâneas pela carestia da vida e o desemprego.

O Surgimento da I Internacional

Organizou-se um primeiro movimento a nível estatal: "Exposição apresentada pela classe operária às Cortes Constituintes", redigida por Pi i Margall, na qual se pedia o direito de livre associação. A presença de Pi i Margall à frente vinculava as reivindicações aos partidos republicanos, o que, com a chegada da I Internacional, levou os operários a abandonar o republicanismo em favor de uma ideologia exclusivamente operária e revolucionária.

A Revolução de 1868 e a Internacional

Depois da Revolução de 1868, decretou-se pelo Governo Provisório revolucionário a liberdade de associação, criando-se no ano seguinte os primeiros núcleos da Internacional na Espanha (Catalunha, Galícia...). Embora as organizações operárias tenham sofrido durante todo este período a repressão estatal, não foi até o golpe de estado e posterior governo do general Serrano que a Internacional foi dissolvida.

A Era da Restauração e as Tendências Ideológicas

Durante a Restauração, o anarquismo foi a ideologia dominante. Os socialistas aderiram à II Internacional, formada apenas por associações marxistas, e foram se inclinando para posições mais reformistas. Em 1879, um antigo grupo de internacionalistas madrilenhos fundou secretamente o PSOE de tendência marxista. Com a ascensão ao poder do Partido Liberal em 1881 e o reconhecimento do direito de reunião e de imprensa, o movimento operário saiu da clandestinidade.

A legalidade plena foi alcançada com a Lei de Associações de 1887, embora a repressão continuasse quando as atividades reivindicativas atentavam contra a ordem pública. O grupo socialista aproveitou a legalidade para formar em 1888 a UGT (Unión General de Trabajadores), que defendia melhorias nas condições de trabalho dos operários através da negociação. O anarquismo, a corrente majoritária, aproveitou também o governo de Sagasta para fundar a Federación de Trabajadores de la Región Española (FTRE), que rejeitava a política parlamentar. No entanto, as autoridades realizaram uma forte repressão em Andaluzia devido aos assassinatos relacionados com a sociedade secreta "La Mano Negra". A FTRE desapareceu em 1888 e o anarquismo fragmentou-se. Surgiu o terrorismo individual, ocorrendo atentados de grande repercussão como as bombas contra Martínez Campos, contra o Liceu de Barcelona ou o assassinato de Cánovas em 1897. Isso levou à execução e encarceramento de numerosos anarquistas de forma indiscriminada. Os atentados seguiram de forma pontual, sendo ações isoladas contra os que consideravam responsáveis pela injustiça nas classes oprimidas.

Consolidação no Século XX

No século XX, ambas as tendências se consolidaram. O sindicato socialista (UGT) manteve uma linha muito moderada, tentando incorporar os setores menos radicais em estreita relação com o Partido Socialista. Em 1921, surgiu, de uma pequena cisão do PSOE, o Partido Comunista de Espanha, formado pelos seguidores das teses bolcheviques e da III Internacional.

Os anarquistas dividiram-se entre os partidários da continuação da ação direta e os partidários de uma ação de massas, que defendiam a criação de organizações de caráter sindical. Criou-se o primeiro sindicato anarquista; Solidariedade Operária (1907) e três anos depois a CNT. Seus métodos foram variados: greve, boicote, sabotagem... Houve um progressivo aumento da filiação até o ponto que resultou na sua ilegalização durante a ditadura de Primo de Rivera.

Continuaram existindo um grande número de sindicatos que agrupavam os trabalhadores de um determinado ofício. Sua atividade centrou-se na luta por melhorias salariais de seus filiados. Por fim, o sindicalismo católico ou confessional teve pouca importância. Sua posição diante da miséria das classes populares resultava em caridade, rejeitando radicalmente os anarquistas e socialistas. Todas as associações católicas pregavam a colaboração das classes e não o confronto.

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