Sermão de Santo António aos Peixes: Uma Análise

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Exórdio

O Padre António Vieira inicia o sermão apresentando o conceito predicável, “Vós sois o sal da Terra”, e questiona as razões da corrupção terrena. A culpa, sugere, reside ou no sal (pregadores) ou na terra (ouvintes). Se no sal, os pregadores falham ao não pregar a verdadeira doutrina, ao agir de forma contraditória ou ao pregar a si mesmos em vez de Cristo. Se na terra, os ouvintes rejeitam a doutrina, imitam os maus exemplos dos pregadores ou priorizam seus próprios apetites em detrimento dos de Cristo.

Exposição e Confirmação

Capítulo II (Louvor)

Vieira elogia os peixes por ouvirem sem falar, por serem as primeiras criaturas de Deus, por sua superioridade em relação aos homens, sua quantidade, obediência, respeito, devoção e resistência à domesticação. Essas qualidades são contrastadas com os defeitos humanos.

Capítulo III (Particular)

O pregador analisa peixes específicos:

  • Peixe de Tobias: cura a cegueira e o coração possuído por demônios.
  • Rémora: pequena no tamanho, mas grande em força e poder.
  • Torpedo: emite descargas elétricas para defesa, simbolizando a transmissão da virtude do Espírito Santo.
  • Quatro-Olhos: com dois olhos voltados para cima e dois para baixo, representa a capacidade de discernir o bem do mal.

Esses louvores são antíteses aos defeitos humanos, simbolizando seus vícios.

Capítulo IV – Repreensão

Vieira critica os peixes que se devoram entre si, com os maiores consumindo os menores, ilustrando a ganância e a desigualdade.

Capítulo V – Particular

O sermão explora peixes específicos que representam vícios humanos:

  • Roncadores: apesar de pequenos, são barulhentos, simbolizando a arrogância.
  • Pegadores: pequenos peixes que se prendem a maiores, representando o oportunismo e o parasitismo.
  • Voadores: peixes que tentam voar, simbolizando a vaidade.
  • Polvos: com aparência de santidade, mas traiçoeiros e hipócritas, representam a falsidade.

Peroração

O orador retoma a crítica aos pregadores, incluindo a si mesmo, por não cumprirem sua função. Ele compara homens e peixes, argumentando que ambos falham em alcançar o sacrifício final. Vieira conclui que a irracionalidade e o instinto dos peixes são superiores à racionalidade e ao livre arbítrio humanos, que muitas vezes levam ao pecado. O sermão termina com um apelo aos ouvintes e um louvor a Deus, restabelecendo a proximidade entre o orador e a audiência.

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